Professora Isabel Cecília é a nossa homenageada em comemoração ao Dia da Consciência Negra

Portal Tabatinga

No dia 20 de novembro, é comemorado o Dia da Consciência Negra no Brasil. A data reacende reflexões importantes sobre a cultura, a luta e os desafios dos negros no país e o racismo estrutural ainda tão presente na sociedade brasileira.

Diante de uma data com tanto significado, o Portal Tabatinga convidou para um bate papo, Isabel Cecília da Silva, 35 anos, natural do Rio de Janeiro, residente em Tabatinga desde dezembro de 2012.

Uma mulher negra, professora de história que contribui com o município de Tabatinga de forma atuante desde sua chegada.

Envolvida em ações de cunho social, solidárias e culturais do nosso município e adjacentes. Sua atuação na educação foi sempre voltada para a construção da identidade a partir da valorização da história e cultura local.

Das atividades sociais/culturais, a mesma, antes do triste cenário da pandemia, foi criadora e coordenadora de um projeto de dança, arte e cultura, com 32 jovens e adolescentes, chamado Mix Dance, que chegou a se apresentar na Confraternidade Amazônica, demonstrando a cultura brasileira.

Para além, a mesma sempre esteve envolvida em atividades culturais. Foi marcadora de quadrilha, chegando a receber o título de melhor marcadora no arraial das escolas de Tabatinga há anos atrás.

A professora Isabel Cecília, vive e se orgulha da cultura da nossa cidade, participa da Associação Folclórica Onça Preta, onde é a única mulher chefe de clã nos 3 últimos festivais.

Já foi 4 vezes Rainha do Carnaval do município.

1. Como foi a sua infância e juventude em relação ao desafio de ser uma mulher negra?

Ser mulher no Brasil já é um desafio, ser uma mulher negra exigiu muito mais de mim. Principalmente por viver numa cidade grande onde o preconceito é mais explícito, a gente cresce sabendo que não vai ser fácil e que a luta para conquistar os espaços será árdua. Fazendo com que sejamos ensinadas a ser forte, justamente para enfrentar toda a discriminação, todo racismo existente na nossa sociedade, que julga a nossa cor, o nosso cabelo, os nossos traços.

2. Como você vê as políticas públicas voltadas para os negros?

As políticas públicas voltadas para a população negra têm um foco em igualdade racial, o que eu vejo com uma longa jornada pois para reduzir as desigualdades raciais dever ser realizada diversas ações em vários âmbitos, ações de longo, médio e curto prazo. Projetos que possibilitem mais acesso à educação e emprego, além de um trabalho com a sociedade como um todo para alcançar uma equidade referente a igualdade de oportunidades, defesa de direitos e a conscientização da população para termos uma sociedade não racista e não discriminatória.

3. Qual o significado do Dia da Consciência Negra para você?

A consciência negra é algo muito importante para a gente refletir sobre o preconceito, sobre a discriminação, para pensar onde eu guardo o meu racismo. A ideia de se tirar um dia para celebrar o negro é muito válida, porém eu sou negra 365 dias e não apenas em 1. A gente vive numa sociedade que reforça o racismo e as diferentes formas de discriminação diariamente. Negros, indígenas, população LGBTQIAL+, gordos, magros, altos, baixos, idosos, pessoas com deficiência, todos sofrem preconceito, pois, estão fora do padrão que é imposto pela sociedade. Sendo assim quando se fala em consciência negra é preciso tomar cuidado para não transformar essa data que é tão valiosa em um dia que reforce ainda mais o preconceito.

4. Você é natural da cidade do Rio de Janeiro e reside há 11 anos em Tabatinga, nos fale um pouco sobre o título de Cidadã Tabatinguense que será entregue a você pela Câmara municipal de Tabatinga.

Estou muito grata pela titulação.  Me sinto e sou tabatinguense de coração. Está sendo uma honra pois são 11 anos que eu moro e vivo Tabatinga, quando eu digo viver eu me refiro a ser e pertencer a esta cidade que me acolheu tão carinhosamente, eu falo de participar ativamente e contribuir positivamente de alguma forma para o município. Este título demostra que tudo que eu fiz de coração e vivo em Tabatinga teve seu valor e foi reconhecido. Sou muito grata a minha Tabatinga

5. Atualmente você é professora de história no município, más também realiza um lindo trabalho de amor ao próximo, nos fale do grupo que você faz parte e das ações sociais que tanto tem ajudado aqueles que mais precisam.

Tabatinga me deu muitas bênçãos e uma forma de retribuir é na realização dos trabalhos sociais. Praticar a caridade é exercitar a virtude de amar ao próximo como amamos a nós mesmos. É a atitude de agir com quem precisa, sem interesse e sem esperar nada em troca.

Aqui em Tabatinga eu faço parte de 3 grupos que realizam ações sociais, um grupo se chama Amigos do Bem, formado por jovens da cidade de Tabatinga que se reúnem para realizar ações sociais em data importantes com Dia das Mães, Dia das Crianças e Natal.

Outro grupo de cunho religioso, o CEVIC, onde todo último sábado de cada mês cozinhamos uma sopa, conhecida como sopão fraterno que é distribuído aos trabalhadores do lixão de Tabatinga. Nesta ação não é doada somente a sopa, mas também o tempo, a atenção, os ouvidos e os trabalhadores recebem alimento para o corpo e para o espírito como fé e esperança.

Participo também das ações do grupo Jovens Guerreiras, que faz parte do grupo de mulheres Forte São Francisco 8º BIS, grupo beneficente integrado pelas esposas dos militares. Mesmo não sendo esposa, mas pela minha experiência, conhecimento e voluntariedade, participo dos Acisos e ações do grupo ativamente, fazendo a diferença no Alto Solimões.

Para finalizar o nosso bate papo, que mensagem você gostaria de deixar para as pessoas negras ou não que de alguma forma se sentem desrespeitadas e excluídas em nossa sociedade.

Eu gosto muito de uma frase do Bob Marley que diz: “Enquanto a cor da pele dos homens valer mais do que o brilho dos olhos, sempre haverá guerra.”

Nós precisamos aprender a nos enxergarmos como humanos, apenas isso. Aprender a respeitar as diferenças, entender que não somos iguais e que a nossa sociedade é miscigenada, sim. Lembrar que a nosso Brasil teve muito sangue negro e indígena derramado para ser o que é hoje, é assim que nós somos gratos? Então neste dia da consciência negra reflita, troque seu preconceito por respeito e pratique empatia.