O ex-governador José Melo (PROS) e quatro ex-membros do primeiro escalão do seu governo vão prestar depoimento nesta quarta-feira (7) à Justiça Federal no processo oriundo da Operação Maus Caminhos, que investiga desvios milionários de contratos da Secretaria Estadual de Saúde (Susam) com o Instituto Novos Caminhos (INC), do médico e empresário Mouhamad Moustafa.
Além de Melo também serão inquiridos pela juíza federal Ana Paula Serizawa, da 4ª Vara da Justiça Federal, responsável pelo processo, os titulares da Susam Pedro Elias e Wilson Alecrim, o ex-secretário da Secretaria Estadual de Fazenda (Sefaz) Afonso Lobo, e o ex-chefe da Casa Civil, Raul Zaidan.
Por volta das 8h30 chegaram à sede da Justiça Federal, na Zona Centro-Sul, os ex-secretários Pedro Elias, Raul Zaidan e Wilson Alecrim. Pela manhã, em ordem, Pedro, Raul e Wilson prestaram depoimento. De tarde, Afonso Lobo e Melo serão ouvidos. De acordo com a defesa do ex-governador, ele será o último a prestar depoimento. As audiências poderão continuar nos outros dias caso seja necessário.
Primeiro dia
Ontem, a ex-primeira-dama Edilene Oliveira, acusada de obstruir as investigações, afirmou que se dirigiu a uma empresa de guarda-volumes por falta de orientação da Polícia Federal (PF). De acordo com denúncia do MPF, a esposa do ex-governador era proprietária de dois boxes em uma empresa de guarda-volumes, onde estariam provas materiais para o andamento do processo.
Também prestaram depoimento ontem o irmão de Melo, o ex-secretário estadual de Administração, Evandro Melo, às ex-servidoras da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (Susam), Ana Cláudia Gomes e Keytiane Almeida, que foi secretária adjunta executiva do Fundo Estadual de Saúde (FES), e o ex-secretário adjunto do FES, José Duarte Filho.
O MPF sustenta que a empresária do ramo de depilação não costumava ir ao local, mas, no dia 23 de dezembro de 2017, um dia depois do cumprimento de mandado de busca e apreensão por parte da PF em sua residência, ela esteve no local, segundo Edilene, para retirada de cera.
Segundo a ex-primeira-dama, ela não tinha conhecimento de que as chaves estavam com a PF por já tê-las perdido três vezes. “Não tinha como eu saber que não poderia ir lá. Não fui orientada e nem sabia que a PF ia. Eu precisava da matéria-prima”, declarou em depoimento. A ação de Edilene e de outras duas pessoas foram registradas pelas câmeras de vigilância da empresa, que fica localizada na Zona Leste de Manaus.
Entenda
Em 2016, a Operação Maus Caminhos desarticulou um grupo que desviava recursos públicos por meio de contratos firmados com o governo do estado para a gestão de três unidades de saúde em Manaus, Rio Preto da Eva e Tabatinga, feita pelo INC, instituição qualificada como organização social.
As investigações que deram origem à operação demonstraram que, dos quase R$ 900 milhões repassados, entre 2014 e 2015, pelo Fundo Nacional de Saúde (FNS) ao Fundo Estadual de Saúde (FES), mais de R$ 250 milhões teriam sido destinados ao INC. A apuração indicou o desvio de recursos públicos, além de pagamentos a fornecedores sem contraprestação ou por serviços e produtos superfaturados, movimentação de grande volume de recursos via saques em espécie e lavagem de dinheiro pelos líderes da organização criminosa.
As operações Custo Político, Estado de Emergência, Cashback e Vertex, desdobramentos da Operação Maus Caminhos, mostraram, ainda, o envolvimento de agentes públicos, de políticos da alta cúpula do Executivo estadual, entre eles o ex-governador José Melo, e de pessoas ligadas a agentes públicos em um esquema de propina criado para acobertar e colaborar com os desvios feitos pelo grupo que geria as unidades de saúde, liderado pelo médico Mouhamad Moustafa.
Fonte: Acrítica.com