Amazonas é o quarto estado com mais casos de hepatite no Brasil

Camila Bonfim

Dados do Ministério da Saúde (MS) apontam o Amazonas como o quarto estado do país com a maior incidência de hepatite B, em 2018. Foram notificados 658 casos desse tipo específico de doença, no período. De acordo com o Boletim divulgado pelo MS no ano passado, o Amazonas estava atrás apenas do Acre, Rondônia e Espírito Santo. Até maio deste ano, já foram 397 registros de hepatites, ritmo que se persistir fará os números ultrapassarem os do ano anterior.

Em 2017, a taxa de detecção da doença no estado foi maior do que a registrada no restante do Brasil: 16,5%, contra 6,5%.

Segundo a coordenadora estadual de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST/AIDS), da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), Dessana Cheuhuan, a grande extensão da bacia hidrográfica amazônica e a falta de saneamento básico adequado são alguns dos fatores que tornam o Amazonas um dos focos da doença no Brasil. Com o objetivo de difundir informações sobre as hepatites virais e as medidas preventivas existentes acontece, nesta sexta-feira, o lançamento da campanha “Julho Amarelo”, coordenada pela IST/AIDS e Hepatites Virais da FMT-HVD.

“A disseminação do vírus é facilitada pelo intenso trânsito pelas vias fluviais”, explica Dessana, baseando-se em eventos históricos para fundamentar o argumento.  Segundo ela, especialistas afirmam que os primeiros registros da doença na Amazônia remontam ao período da colonização, quando os viajantes apresentavam sinais de icterícia, um dos sintomas da hepatite, caracterizado pela coloração amarelada da pele.

Balanço

Em todo o ano passado, 918 casos da doença foram registrados no Amazonas, destes 658 de hepatite B, 210 de hepatite C e 50 de hepatite D (Delta), de acordo com levantamento do Sistema de Informações sobre Agravos Notificáveis (Sinan) da Secretaria de Estado de Saúde (Susam), responsável por gerar os dados que compõem o boletim do Ministério da Saúde. Em 2017, foram 974 ocorrências da doença no total, sendo 697 casos referentes a hepatite do tipo B, 234 a hepatite C e 43 do tipo D. Nos primeiros cinco meses, deste ano, o número já chega a 397 notificações, distribuídas em 274 disgnósticos de hepatite tipo B, 91 de hepatite C e 32 de hepatite D. O número equivale a uma média de 79,4 casos mensais e de quase três notificações por dia.

“A variação é curta e não há muito a ser comemorado, principalmente porque dispomos de vacinas para hepatite B”, destaca a técnica de Hepatites Virais da FMT-HVD, Josana Figueiredo. Ela afirma que há certa falta de disposição dos pacientes em receber as três doses da vacina e que, somente em 2015, por meio de uma portaria do MS, foi ampliada a imunização para todas as idades. Por isso, a população do sexo feminino entre 10 e 49 anos é alvo das campanhas da Susam, com o objetivo de evitar a transmissão vertical, ou seja, de mãe para filho, no momento do parto.

“Não é uma doença sazonal, como a dengue, e há possibilidade de um aumento dos casos depois do término da campanha. Além disso, trata-se de um mal silencioso, já que algumas pessoas levam até vinte anos para desenvolver um quadro grave e procurar um médico”, explica Josana Figueiredo.

A doença

A hepatite é uma inflamação no fígado causada por vírus, uso de remédios, álcool e outras drogas, assim como por doenças autoimunes, metabólicas e genéticas. Relação sexual desprotegida, consumo de água e alimentos contaminados, compartilhamento de objetos perfurocortantes, como alicates, são alguns dos meios de contaminação da hepatite B. Os sintomas incluem febre, prostração, icterícia e, nos quadros mais graves, aumento de volume abdominal, inchaço dos membros inferiores, câncer no fígado e cirrose hepática. Impedir que o quadro do paciente evolua até esses últimos estágios é um dos maiores desafios do tratamento.

“A ideia é que as pessoas façam testes com frequência. Se contraíram o vírus da hepatite B ou C, podemos iniciar a intervenção precocemente e o indivíduo não chega à cirrose ou ao câncer de fígado”, explica Dessana Cheuhuan.

O segundo tipo não tem cura. O tratamento com comprimidos faz com que o vírus fique “adormecido” no organismo. Por outro lado, não há vacinas para hepatite C. Quando o paciente busca atendimento, é feita a identificação do estágio da doença e o indivíduo deve tomar medicamentos por um período de quatro a seis meses.

Já nos casos de hepatite A, a transmissão ocorre por meio do consumo de água e alimentos contaminados. Nesse caso, o paciente fica em observação e recebe hidratação para a recuperação do sistema imunológico.

Fonte: Acrítica.com